17 de mar. de 2012

Transtorno de Processamento Sensorial: mais comum do que se pensa

Por Andrea Werner, blog Lagarta Vira Pupa (http://lagartavirapupa.wordpress.com)

Estava conversando, ontem, com a terapeuta ocupacional do Theo, e tive a idéia de fazer esse post. Já comentei, rapidamente, sobre a questão das dificuldades de processamento sensorial que as crianças autistas tem.

Pois bem. Acontece que isso não é excluvidade de crianças autistas. Segundo uma estatística americana, 1 em cada 20 pessoas tem algum tipo de problema de processamento sensorial (fonte: SPD Foundation). 5% de incidência é muita gente! Claro que a incidência é bem maior em autistas, mas existe muita criança neurotípica por aí com TPS (transtorno de processamento sensorial) sem que os pais tenham a menor idéia disso.

Basicamente, o TPS interfere na forma com que o cérebro recebe, processa e responde aos estímulos vindos dos sentidos (tato, paladar, audição, etc).

Quando pensamos em TPS, a primeira imagem que vem à cabeça é aquela clássica da criança tampando os ouvidos. Mas esse é só um dos sintomas de sensibilidade sensorial.

E é por isso que eu pensava que meu filho não tinha essa coisa aí. Afinal, ele nunca se incomodou com barulho ou com toque (muito antes pelo contrário).

Até que descobri que existe hipo e hipersensibilidade. E, lendo a lista de características das crianças hipo sensíveis (que, basicamente, buscam sensação), percebi que o Theo tem 80% dessas características:

Coisas que você nota em sensory seekers (crianças que buscam sensações):

•Gosta de girar
•Sobe em coisas muito altas
•Sobe em tudo
•Tromba nas coisas (pessoas, móveis, parede)
•Coloca a boca/lambe coisas não comestíveis (móveis, brinquedos, corpo)
•Mastiga coisas não comestíveis (como a própria roupa)
•Come excessivamente
•Constantemente luta com os irmãos
•Toca em tudo
•Brinca com a comida
•Faz bagunça para comer
•Enche muito a boca com comida
•Come comidas apimentadas ou condimentadas
•Pouca resposta à dor (esquece rapidamente dela)
•Joga todos os brinquedos pra fora da caixa só pra olhar pra eles
•Gosta muito de brincar com lama, água, sabão, e outras coisas bem sensoriais
•Pula muito
•Gosta de andar descalço
•Mastiga a escova de dentes
•Não consegue ficar sentado quietinho na cadeira
•Cai da cadeira sem razão aparente
•Procura barulhos altos (aumenta o som da tv, coloca brinquedos barulhentos próximos ao ouvido, gosta de secador de cabelo, aspirador de pó, etc)
•Não consegue regular bem o próprio volume (você diz constantemente “pare de gritar”)
•Cheira tudo



Por outro lado, há as crianças hipersensíveis. E essas são as características principais:

Coisas que você nota em sensory avoiders (crianças que evitam sensações):

•É excessivamente seletivo com a comida (prefere uma textura específica ou sabores básicos)
•Cobre as orelhas quando há barulho (odeia aspirador, liquidificador, secador de cabelo)
•Não gosta de ser tocado (não é uma criança que curte abraço ou ficar aninhada no colo)
•Odeia etiquetas e costuras das roupas
•Não gosta de colocar sapatos (ou prefere somente um tipo de sapato)
•Evita atividades que sujam (lama, areia, etc)
•Evita atividades manuais como pintura ou massinha
•Anda nas pontas dos pés
•Não gosta muito de brincar no playground (subir no brinquedo, balançar)
•Odeia fralda ou roupa molhada/suja
•Não gosta de ter as pessoas próximas demais
•Se recusa a tomar banho ou a brincar com água
•Não gosta de água no rosto
•Não gosta ou se recusa a escovar os dentes
•Reclama de cheiros
•Reclama que a luz normal é brilhante demais
•Super sensível a dor (tudo machuca)
•Evita/recusa adesivos, band-aids, etc.
(fonte: The Thinking Person’s Guide to Autism)

Tendo dito isto, nenhuma criança é 100% seeker ou avoider. Em geral, elas são mais uma coisa, mas com pinceladas da outra. Por exemplo: Theo é o típico sensory seeker. Adora passar a mão em tudo, andou até lambendo recentemente, adora abraço, enfia várias bolachas na boca de uma vez, etc. Mas ele implica com etiquetas das roupas, não deixa colocar nada na cabeça (como chapéu ou boné) e, colocar um band-aid nele é tarefa pro Chuck Norris.

Seu filho é excessivamente seletivo com comida? Curte demais um barulho alto? Aperta/toca tudo? Lambe os brinquedos? Na dúvida, procure um neuropediatra ou terapeuta ocupacional especializada em Integração Sensorial. Existe tratamento pra isso, e pode tornar a vida do seu filho bem mais fácil.

Porque é que a Terapia Ocupacional é importante para as crianças com autismo?

Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “ Evolve Children’s Therapy...